quinta-feira, 29 de outubro de 2009

máscaras minhas de esperança

Versos Íntimos
Augusto dos Anjos
Vês! Ninguém assistiu ao formidávelEnterro de tua última quimera.Somente a Ingratidão - esta pantera -Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!O Homem, que, nesta terra miserável,Mora, entre feras, sente inevitávelNecessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!O beijo, amigo, é a véspera do escarro,A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,Apedreja essa mão vil que te afaga,Escarra nessa boca que te beija!

ou

O DEUS-VERME

Fator universal do transformismo.Filho da teleológica matéria,Na superabundância ou na miséria,Verme - é o seu nome obscuro de batismo.Jamais emprega o acérrimo exorcismoEm sua diária ocupação funérea, E vive em contubérnio com a bactéria,Livre das roupas do antropomorfismo.Almoça a podridão das drupas agras,Janta hidrópicos, rói vísceras magras E dos defuntos novos incha a mão...Ah! Para ele é que a carne podre fica,E no inventário da matéria ricaCabe aos seus filhos a maior porção!


versos íntimos

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